Na esquina da Riachuelo
12:26:00
Símbolo da
prostituição no Centro, Graxaim se reinventa tendo em sua direção uma mulher e
dizendo não aos estigmas
A
Rua Riachuelo, uma das mais antigas curitibanas, carrega, desde seu início, no
século 19, inúmeras lojas e comércios. Contudo, não é apenas isso que marca a via
recém-revitalizada. Para comerciantes e frequentadores da região, uma palavra a
define: prostituição.
Para
o funcionário de uma loja de calçados, que não quis se identificar, a Riachuelo
seria a “Sodoma e Gomorra curitibana”, fazendo clara referência às cidades
pecadoras da Bíblia. Para o proprietário do estabelecimento Mais Café,
localizado na região, os principais problemas ocorrem na parte da noite, devido
à falta de policiamento na rua.
Como símbolo e ápice da prostituição na Riachuelo, alguns comerciantes indicam o mesmo local: o bar Graxaim, na esquina com a Travessa Tobias de Macedo. A dona do estabelecimento, Sirlene – uma mulher normal, com cabelos presos, voz e pulso firmes - se defende: “Nós somos um bar de encontros”.
Para Sirlene, primeira mulher a comandar o Graxaim, o local carrega uma má fama pelo seu passado. “Hoje, é um bar quase normal”. A comerciante, no local há quase 20 anos, explica que o Graxaim surgiu há cerca de 50, na época da ditadura, formado e frequentado somente por militares. No começo, menores frequentavam o local e se prostituíam ali. Com o fim da ditadura, o bar passou a ser comandado e frequentado por civis, mas continuou com o viés de prostituição.
Hoje,
conforme Sirlene, o ponto tem uma característica de single bar, o primeiro do gênero em Curitiba: um local no qual as
pessoas vão a fim de procurar parceiros sexuais. As mulheres ficam ali,
esperando possíveis “companhias”. E os homens, em sua grande parte, são simples
trabalhadores: desde encanadores a professores. O bar possui apenas algumas
mesas e um balcão com os mais diversos tipos de bebidas. Apesar de sua entrada
misteriosa – ao lado do Cine Lido e no final de uma galeria escura, o Graxaim é,
por que não, um bar simples.
A
proprietária deixa claro: “Não temos quartos, não pagamos para essas meninas,
nem recebemos delas. São clientes normais.” Ela salienta que as pessoas vão ao
local, principalmente, para beber e escutar música. “Tem meninas que ficam uma
semana vindo aqui e não conseguem nada”, relata.
Sirlene
impôs severas regras ao local: “Não aceito meninas que fazem ponto na rua;
drogados; menores de idade; leões de chácara. Não permito que façam ponto na
minha porta. Não aceito traficantes ou drogas aqui dentro. Temos um porteiro e
17 câmeras instaladas”. Para ela, o Graxaim é o bar mais tranquilo da cidade.
Sem brigas, tumulto ou falta de respeito. Para chegar a esse ponto, conta que sofreu
muitas ameaças, principalmente de traficantes.
Com
uma clientela diversificada – de caminhoneiros a casais - Sirlene afirma que
casou muitas meninas que antes ficavam ali -, o Graxaim, para a dona, carrega
nas costas todos os problemas relacionados à prostituição da região, mesmo que
injustamente, devido a sua tradição e ao fato de ser conhecido no Brasil
inteiro.
Com
mistérios próprios, o Graxaim é um resumo da Rua Riachuelo. Em cada canto, há
algo novo para ser descoberto. Na esquina do bar, tem-se o próprio
estabelecimento, o cinema, uma lanchonete e a escola de Muay Thai. Ao lado, um
brechó. Mais a frente, a alfaiataria. E assim segue a Riachuelo, uma rua que
resume o funcionamento de uma cidade grande: diferentes tipos, cada um em seu
lugar, juntos.
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